Da infância e de gatos (Parte 1 de 2)

demon-cat

Sempre fora dado a taras. As pequenas perversões eram seu passatempo predileto quando moleque de calças curtas.Tinha a obsessão do sexo, e nada o encantava mais que assistir o ato dos gatos vadios no teto da casa do vizinho.

Uma senhora entrada em anos, moradora do prédio ao lado, jogava água do peitoril de sua janela, excomungando os animais, pequenos felinos, joguetes de seus mais baixos desejos carnais.

ÃNCIA (energética): Pro inferno com seu ronronar pecaminoso, bichanos do Satã.

A torpe repulsa da sacrossanta anciã causara forte impressão sobre a mente pueril e imberbe do garoto. A imagem do sexo público sendo condenado pelos olhares exteriores alojou-se na psique do rapaz, naquele ponto somente despertado pela lisergia ou pela pederastia.

Na idade de masturbação, o amor solitário, foi com extrema culpa que passou a cultuar Onã. Pós todo momento de coito individual o sentimento de culpa lhe remoia as entranhas. Pensava em Jesus e em como suas chagas doíam toda vez que seu pênis ejaculava. Aquele caldeirão de fluídos fez de seu esperma um mistura heterogênea de pus e porra. Na idade da nascedoura cabeleira pubiana, o momento do prazer era o momento do remorso. Fazia promessas a papai do céu:

gato1

EU-LÍRICO (suplicante): Depois dessa vez, um mês ficarei sem me prolongar no banho! Juro Juro Juro! Swear to you meu querido jeusinho!

Essas promessas resultavam em maiores ato de auto-flagelação, pois danavam em ser somente promessas enessas mentiressas descumpridas. E dá-lhe chicotadas nas costas! E da-lhe joelho no milho! E da-lhe nariz tampado, ‘não vou respirar até o arrependimento vir, uma gozada vale menos que minha alma imortal!’

Entrando em anos

Eis que (nada mais natural) chegou a idade do namoro, de conhecer o sexo oposto, meninos tem pênis, garotas tem vaginas. Resistir aos impulsos de uma imaginação lasciva é um desafio, agora lutar contra a volúpia silenciosa de uma costela é tarefa hercúlea demais, que somente alguns helenos e aqueus conseguem suportar. Mas aí estava tudo bem para o nosso senhor, afinal tem algum trecho naquele livrão que menciona um crescei-vos e multiplicai-vos. Babooshka Babooshka Babooshka ia ia. Resolvido o trauma juvenil.

2148159715_c7c0e77544

Mas algo ficara entranhado que a educação e o hábito não conseguiram apagar. Não não, Freud ou Fode algum resolvem os traumas, aqueles da música do Roberto. Por mais intimidade que tivesse com a namoradinha da vez, havia sempre a repulsa ao fluído. As chagas do Leão de Judá lhe perturbavam a cabeça. Imergido no caldeirão pecaminoso, achava condenável o humano ato de cagar, de soltar fluido. Coriza, deus me livre! E achava condenável o bocejo. Aliás, sentia verdadeira ojeriza ao bocejo. Sônia, namoradinha mais firme que arranjou, cometeu certa vez a idiossincrasia de soltar um bocejo, desses de leão da metro golden mayer. Foi condenada na hora da execução do ato.

EU-LÍRICO (sério): Mamãezinha, te acho uma lindeza, gosto a beça, de você, mas faça o favor de não bocejar na minha frente de novo!

SÔNIA (rindo solta): Que bobagem queridinho. Que mal há? Hein? Um bocejo, coisa natural.

EU-LÍRICO (impassível): Pra mim não senhora, não admito! Entende? Não admito. Gosto de uma certa distância. Entende? Pra manter o encanto. Entende. Parece que você está com preguiça de mim. Entende? Tédio tédio, chato chato. Amor é cheiro louco de jasmim, que nem no poema daquele baiano.

E com essa mentira, saiu, justificando sua repulsa ante o ser amado. Mas a maior de suas perturbações, aquela aquela, ele guardava só pra ele. E por enquanto por enquanto, nem o leitor deve saber do que se trata.

~ por cafasorridente em julho 16, 2009.

Deixe um comentário